CRITICA DE FILME 2




ZARDOZ, 1974

Diretor: John Boorman

O filme começa com a icônica abertura dos estúdios Fox, o que para mim, como gatilho de muitas lembranças, foi um prenuncio de algo desanimador. Não querendo crucificar todos os filmes produzidos pela Fox, ou desqualificando qualquer filme que tenha uma produção americana, mas, pelas poucas imagens que eu tinha visto do filme esperava uma produção bem distante dos grandes estúdios e seus padrões hollywoodianos, que estão dispostos a fazer de tudo para não se arriscar.
Com as expectativas reduzidas, segui no filme, e o começo já entra uma cabeça nos contando uma história de algo que ainda vai acontecer, no ano de 2232 (salvo engano), o que eu acho uma decisão inteligente de se fazer num filme sobre futuro pois, evita as pessoas falarem que no ano de 2015 não existem skates voadores.
Por todos os elementos que o filme trabalha, eu encaro ele muito mais próximo de uma fantasia do que de uma ficção cientifica. Apesar, de sempre me lembrar de que ficção cientifica em italiano é fantasia cientifica. Porém, ao se distanciar tanto de uma temporalidade crível, a história acaba se aproximando muito mais de uma narrativa de tempos homéricos, do que de uma projeção futura.
Eu não li nada sobre o filme, ou sobre o que os realizadores pensaram, mas o filme foi vendido aqui como sci-fi, e não é uma reclamação, e acho que definições de gênero são contraditórias em alguns aspectos, mas a maneira que a temáticas são abordadas podem frustrar quem espera exercícios imaginativos partindo da relação da humanidade com a tecnologia.
 

Indo para uma abordagem mais técnica, ao meu ver, o ponto forte do filme está na sua mise-em-scene, no sentido mais puro de o que está colocado em cena, a criação de universo, de cenário, visual, é de encher os olhos. Uma cabeça flutuante de pedra, que faz o papel de deus, para um povo de homens de tangas, foi o que me fisgou para a possibilidade de que esse filme talvez fosse mais ousado do que eu esperava. O universo dos vórtices, a maquiagem destacando a metade do rosto envelhecido no personagem do John Alderton, é tudo muito bem realizado. E existem momentos, de criação de cena bem criativos, como o momento onde o povo do imortal passa o conhecimento ao protagonista, onde ocorre uma montagem rápida, com vários personagens falando, assuntos diferentes, com projeções de imagens no personagem.


A câmera participa pouco dessa psicodélia, a presença dela está em enquadrar da melhor maneira possível o que acontece, sem movimentos ousados ou enquadramentos propositivos, o papel dela é enquadrar o que está em cena, e deixar que esses elementos carreguem a emoção e a história. 
 
O filme segue uma experiência muito semelhante com a narrativa da odisseia de Homero, o que é curioso, pois a maioria dos filmes que são comparados com a obra grega são Road Movies, o que talvez seja a comparação mais óbvia pois, voltar para casa (ou procurar uma) vindo de um lugar muito longe sempre rende uma boa história. Mas a narrativa de Odisseu também elabora outros aspectos interessantes, como o estranhamento entre culturas diferentes e o uso da memória, essa última sendo bem caracterizada na forma que a narrativa é contada pela voz de um Aedo que canta as aventuras e os feitos do herói.

E são esses aspectos que o filme elabora em boa parte, o estranhamento do povo com a figura do Zed, e a busca do entendimento desse através da recordação de suas memorias, para encontrar a chave da história.
O problema do filme, em sua narrativa, talvez esteja em colocar elementos demais, e querer resolver tudo de uma vez. Muitos conceitos apresentados, e resolvidos ao mesmo tempo, torna a narrativa confusa, e cansativa em momentos de clímax.
É um filme interessante, inventivo na exposição, e com bons conceitos. Com certeza, eu assistiria de novo e recomendaria para quem está lendo.



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