CRITICA DE FILME 2
Diretor: John Boorman
O filme começa com a icônica abertura dos estúdios Fox, o
que para mim, como gatilho de muitas lembranças, foi um prenuncio de algo
desanimador. Não querendo crucificar todos os filmes produzidos pela Fox, ou
desqualificando qualquer filme que tenha uma produção americana, mas, pelas
poucas imagens que eu tinha visto do filme esperava uma produção bem distante
dos grandes estúdios e seus padrões hollywoodianos, que estão dispostos a fazer
de tudo para não se arriscar.
Com as expectativas reduzidas, segui no filme, e o começo já entra uma cabeça
nos contando uma história de algo que ainda vai acontecer, no ano de 2232 (salvo
engano), o que eu acho uma decisão inteligente de se fazer num filme sobre
futuro pois, evita as pessoas falarem que no ano de 2015 não existem skates
voadores.
Por todos os elementos que o filme trabalha, eu encaro ele muito mais próximo
de uma fantasia do que de uma ficção cientifica. Apesar, de sempre me lembrar
de que ficção cientifica em italiano é fantasia cientifica. Porém, ao se
distanciar tanto de uma temporalidade crível, a história acaba se aproximando
muito mais de uma narrativa de tempos homéricos, do que de uma projeção futura.
Eu não li nada sobre o filme, ou sobre o que os realizadores pensaram, mas o
filme foi vendido aqui como sci-fi, e não é uma reclamação, e acho que definições
de gênero são contraditórias em alguns aspectos, mas a maneira que a temáticas
são abordadas podem frustrar quem espera exercícios imaginativos partindo da
relação da humanidade com a tecnologia.
Indo para uma abordagem mais técnica, ao meu ver, o ponto
forte do filme está na sua mise-em-scene, no sentido mais puro de o que está
colocado em cena, a criação de universo, de cenário, visual, é de encher os
olhos. Uma cabeça flutuante de pedra, que faz o papel de deus, para um povo de
homens de tangas, foi o que me fisgou para a possibilidade de que esse filme
talvez fosse mais ousado do que eu esperava. O universo dos vórtices, a
maquiagem destacando a metade do rosto envelhecido no personagem do John Alderton,
é tudo muito bem realizado. E existem momentos, de criação de cena bem
criativos, como o momento onde o povo do imortal passa o conhecimento ao
protagonista, onde ocorre uma montagem rápida, com vários personagens falando,
assuntos diferentes, com projeções de imagens no personagem.
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O filme segue uma experiência muito semelhante com a narrativa da odisseia de Homero, o que é curioso, pois a maioria dos filmes que são comparados com a obra grega são Road Movies, o que talvez seja a comparação mais óbvia pois, voltar para casa (ou procurar uma) vindo de um lugar muito longe sempre rende uma boa história. Mas a narrativa de Odisseu também elabora outros aspectos interessantes, como o estranhamento entre culturas diferentes e o uso da memória, essa última sendo bem caracterizada na forma que a narrativa é contada pela voz de um Aedo que canta as aventuras e os feitos do herói.
E são esses aspectos que o filme elabora em boa parte, o estranhamento do povo com a figura do Zed, e a busca do entendimento desse através da recordação de suas memorias, para encontrar a chave da história.
O problema do filme, em sua narrativa, talvez esteja em colocar elementos demais, e querer resolver tudo de uma vez. Muitos conceitos apresentados, e resolvidos ao mesmo tempo, torna a narrativa confusa, e cansativa em momentos de clímax.
É um filme interessante, inventivo na exposição, e com bons conceitos. Com certeza, eu assistiria de novo e recomendaria para quem está lendo.
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