O quê e como escrever sobre filmes ?
Ao pesquisar sobre filmes e cinema na internet, se encontra
conteúdos de todo tipo, desde sites mais sensacionalistas sobre teorias
estapafúrdias de filmes do momento, até a canais de viés mais conceituais que
se atem a incríveis 5 minutos para falar sobre Blow-up.
Não venho aqui para fazer juízo de valor, embora
indiretamente esteja fazendo, a questão é, o que se pode falar sobre filmes?
E como falar sobre? Será que um texto, apenas palavras, é o bastante para
comentar, criticar ou falar sobre uma arte que é em sua essencia imagem-movimento?
Pensar num juízo sobre arte, é uma questão que pode demandar alguns parágrafos,
e pelo menos como primeiro texto do blog, não era algo que eu gostaria de
fazer. Então, como proposta para esse primeiro texto, irei comentar sobre
algumas dessas indagações, trazer alguns exemplos e esboçar um texto sobre um
filme.
No livro “A Estética Do Filme” de Jacques Amount, fala
sobre as tipologias dos escritos sobre cinema, que são livros destinados ao
“grande público”, as obras para cinéfilos (amante informado sobre cinema), e os
escritos estéticos e teóricos. O exemplo do primeiro tipo, são descritos como
discurso de amor, o discurso de mera exaltação, fala sobre atores, sobre a vida
das estrelas etc. O segundo caso, talvez seja mais passível de encontrar pares
na internet, afinal o termo é amplamente utilizado com mais diversas
conotações, e em muitos casos até associado com o “Nerd” ou “Geek”, mas nesse
caso, como caracterizado por Amount, o conteúdo dos textos é mais focado nos
diretores, nas obras, em pensar o cinema para além da diversão, inclusive um
exemplo para esse tipo de texto é o livro de entrevistas com Hitchcock, do
François Truffaut.
O último tipo de escrita sobre cinema, talvez possa ser definido como mais
acadêmico, é mais voltado para a linguagem, o exemplo dado no texto é sobre
escritos dos russos, húngaros e alemãs. Mas fugindo de um eurocentrismo, eu
diria que são textos teóricos, que enxergam com objetividade o que é
representando, e o brasil possui publicações nesse sentido.
Refletindo sobre essa tipologia, a questão talvez seja em grau de afastamento
com o objeto, para se criticar é necessário olhar de fora, e quanto mais
próximo você se relaciona com algo, mais subjetivo, passional, emotivo, será o
seu o seu discurso sobre isso. E esse, é o discurso mais comum que encontramos
na internet, seja em vídeos ou comentários, predicados e adjetivos lançados de
forma arbitrária. Esse filme foi “épico”, o “pior filme de todos os tempos”, a
“fotografia é linda”, o “ melhor filme de todos os tempos”, etc.
Em relação, aos escritos feitos pelos que se dizem críticos, o esquema é mais
ou menos, construir a linha argumentativa, utilizando a história do filme para
compor o texto (com versões sem spoilers e com spoilers). Assim, o autor tece
seus comentários primeiro contando o que foi contado no filme (roteiro), e
comentando pontualmente, pontos estéticos que chamaram atenção, sem exatamente
explicar o porquê a trilha sonora “ funcionou muito bem”, ou como a fotografia pode
ser “sóbria” e a montagem “frenética”. O tom entre o bem humorado e mais
sério, pois no fim das contas, estamos na internet por entretenimento.
Já me deparei, também, com conteúdo mais teórico, voltado para uma explicação
mais técnica e focada na linguagem cinematográfica. É algo menos presente, e
está sempre flertando com tom professoral (sem querer soar pejorativo), esses
conteúdos são para quem “quer aprender sobre cinema”. E em muitos, você só tem
acesso a eles realmente assistindo algum curso pago.
E feita essa digressão, me questiono, que linha seguir? O que eu quero escrever
sobre algum filme? Como eu quero escrever sobre? Alguém vai ler isso aqui? Vou
ganhar DVD de graça pra escrever um crítica no livreto que acompanha?
Inicialmente eu estava planejando falar sobre: Shock do Mario Bava de 1977, e
comentar como a virada final me remeteu bastante a Rebecca do Hitchcock de
1940. Mas já vi esse filme há tanto tempo, e enrolei tanto para escrever esse
texto, que até esqueci o que eu ia falar e como eu ia falar. Fica para uma
próxima ou para um podcast. Acho que, o que foi dito serviu para dar o
tom do blog e das futuras publicações.
AUMONT,Jacques. A ESTÉTICA DO FILME. Campinas, SP: Papirus, 1995.
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