CRITICA DE FILME 4



O rei de novo York  ( Abel Ferrara, 1990) -tenho saudade de escrever mas escrevo mal

-"Eu não sou o problema, sou apenas um empresário" 


Eu gostaria de me sentir à vontade ao escrever um texto, de saber exatamente o que eu quero fazer; manipular um objeto, dominar as regras e ter uma clarividência do contexto, é um patamar para poucos, poderia citar agora Lebron James, astro do basquete que nessa temporada bateu o recorde de pontos da história da liga. Eu que comecei a me interessar por basquete tardiamente, vindo do futebol, sempre tentei encontrar relações que pudessem me traduzir o que eu estava assistindo, mas a verdade, é que é impossível. São jogos completamente diferentes, e um jogador para chegar a um patamar próximo do King James, precisa ter um domínio de vários fundamentos do jogo. No futebol, a defesa fica muito longe do ataque, de forma que um jogador como Messi, não necessariamente precisa ser um grande marcador. Aliás, é até uma anedota, que certos jogadores não precisam correr. O argentino é um gênio, mas nunca desarmaria um contra-ataque à guisa do toco que o Lebron deu em uma final de campeonato.

Sem mais digressões, só utilizei o Lebron, para ilustrar o exemplo de alguém que domina uma atividade, em todos os seus parâmetros. E sim, talvez eu esteja querendo ser um gênio, querendo ter esse controle sobre a escrita, de forma que vir aqui e escrever sobre qualquer coisa, seja tão natural quanto ir ao banheiro. E ainda preciso falar sobre o filme né?

Conheci o Abel ferrara pelo Driller Killer, inclusive até gravei um podcast sobre, e já nem lembro o que eu falei para parafrasear, mas vagamente recordo que tinha a ver com estética.

Em King of New York, ele tem orçamento e um material burguês, é um filme de gangster, máfia, violência, armas ou seja lá como você queira definir esse tipo de filme. O diretor diz que se baseou em o exterminador do futuro, o que na verdade quer dizer que se baseou em todo uma tradição de violência e armas do cinema. Enquanto assistia o filme pensava, que tão onipresente quanto a bandeira, é uma arma no cinema americano. E Ferrara, é consciente disso, a violência no filme em alguns momentos é bastante estilizada, no sentido de muitas vezes parecer surreal o uso das armas. Mas apesar disso, se trata de um filme com um mafioso socialista, que enquanto mata a sangue frio em velório, quer construir hospital para os pobres.



Abel ferrara diz que ele apenas quer, em nenhum momento ele constrói, mas ao mesmo tempo no filme temos um de seus comparsas dando moedas para crianças jogarem e dando dinheiro para uma senhora, então ainda que muitas ações estejam no discurso, há pratica também.

O filme tem uma bela fotografia fruto do orçamento que foi disponibilizado, mas para além disso, a câmera pessoaliza seus personagens utilizando primeiros planos (planos do rosto), em suas expressões, uma percepção muito intima de como eles atuam.  Ou seja, para além dos recursos que Ferrara tinha, o foco principal é no elemento humano.

Pelo pouco que assisti do diretor, ele é um diretor que não necessariamente quer ser nítido em sua ação, o que pode parecer contraditório partindo de uma tradição burguesa de cinema, mas tal qual Kurt Cobain, Jimi Hendrix, utilizam o ruído, a microfonia, para criar, Ferrara utiliza uma imagem-ruído, e muita gente pode virar o olho para isso, assim como muita gente pode achar os solos dos guitarristas citados, uma barulheira, mas saber utilizar o ruído, a desordem, é uma virtude, quem vem diretamente ao que eu comentei no início. O domínio do objeto, o controle sobre o que está se fazendo. Ainda que pareça desordem, mas é um domínio sobre a “desordem”.

E os comentários de ferrara vão nessa direção, e talvez o descontentamento em relação ao cinema burguês era isso, o diretor não sabia o que fazer com a ordem, com o belo, com as cores, ele queria pegar a câmera e deixar fluir.

Há vários filmes de gangster, eu assisti poucos, os mais famosos, mas talvez nenhum deles haja uma cena em que seu protagonista se mistura com a multidão, em que um policial irlandês, chora e beija seu companheiro negro morto.  Não há heróis e vilões, essa é uma pratica do cinema burguês, e apesar de Ferrara está trabalhando um gênero típico desse cinema, a verdade é que ele filma muitos mais as contradições dessa guerra do cidadão contra o cidadão, do que uma história de fraternidade, famílias italianas, masculinidade, violência. Todos esses aspectos estão lá, ainda é um filme típico de gângster, porém distinto, pelos pontos onde o diretor se faz presente. 

 


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