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Lendo Joaquim Maria Machado de Assis #3

  Contos Fluminenses (1870)   A mulher de Preto  "Dom Casmurro" talvez seja o romance mais famoso de Machado de Assis. Logo, julgo interessante, ao visualizar a obra do autor, perceber como algumas ideias já haviam sido elaboradas de alguma forma, apresentando outra execução que nos permite entender como um mesmo conceito, temática ou trama pode ter diferentes abordagens. No caso de A Mulher de Preto , alguns aspectos já citados nos contos anteriores retornam, como certo paternalismo, um jovem personagem em busca de sentido na vida, uma história situada entre as classes mais abastadas etc. Mas, no conto em questão, há a revelação de um desenlace amoroso entre os personagens, causado pelo engano do marido em relação à esposa, baseado em ciúmes decorrentes de um mal-entendido — algo que talvez remeta ao romance mais famoso supracitado. Aproveito o ensejo para comentar que considero uma tremenda bobagem reduzir a discussão sobre Dom Casmurro apenas à possível traição de Cap...

Lendo Joaquim Maria Machado de Assis #2

Contos Fluminenses (1870) Luís Soares Neste segundo conto, desponta um aspecto que mencionei brevemente na análise anterior: o retrato de classe. A narrativa aborda as “desventuras” e “dissabores” de uma classe abastada. “- Não lia jornais. Achava que um jornal era a coisa mais inútil deste mundo, depois da Câmara dos Deputados, das obras dos poetas e das missas. Não quer isto dizer que Soares fosse ateu em religião, política e poesia. Não. Soares era apenas indiferente. Olhava para todas as grandes coisas com a mesma cara com que via uma mulher feia. Podia vir a ser um grande perverso; até então era apenas uma grande inutilidade". Logo na introdução, temos uma descrição clara de nosso personagem: “Soares era indiferente”. Ele é alguém que vive à toa, sem vínculos com questões públicas, arte ou religião. Trocava o dia pela noite e não se importava com nada. Ou seja, não tinha carreira, não tinha família e não criava nada. Nas palavras do proprio: “não tinha coisa nenhuma dentro do...

Lendo “Joaquim Maria Machado de Assis” #1

  Meu primeiro contato com a obra de Machado de Assis foi, como talvez o de quase todo mundo, na escola, com a novela O Alienista . Na época, com 14 anos, não li a história e gravei uma fala redigida por um colega para apresentar o trabalho. A professora percebeu, e acabamos tirando uma nota mediana. Só fui ter contato com a obra do autor novamente no segundo ano do ensino médio, quando o professor exibiu a segunda adaptação de Memórias Póstumas de Brás Cubas para o cinema (acho que ele desconfiava que ninguém ia ler). O contato com a história naquela época me interessou e, no ano seguinte, comprei o livro e me apaixonei pela obra do autor e pela literatura. A questão é que falar dos romances talvez exigisse uma certa dedicação e esforço que, no momento, não estou procurando. Além disso, li os contos de Machado de maneira espaçada e pouco sistemática. Foi então que tive a ideia de ler todos os contos e tecer algum comentário ou análise. Não seria uma crítica, até pela ausência de ...
Crônica 1- Sobre a Morte Eu nunca pensei tanto na morte quanto tenho pensado, a lgo que está suavemente presente em uma reflexão que acompanha sempre meu olhar: " O agora que já vai, o vínculo que se desfaz, eterna transmutação". Semana passada, uma das mais belas beldades da cidade, foi de maneira repentina... Aneurisma Tão nova,  costumava ver ela no clube... Era abastada, cursou arquitetura, e assim que terminou o curso, já tinha escritório montado e uma lista de clientes, todos amigos e conhecidos dos seus pais, amigos da época de escola, a alta classe média da cidade vive numa espécie de seita. Não éramos conhecidos, se trocamos meias palavras, foi só uma vez... Já tinha um aspecto efermiço, pouco saudável, branca feito osga, pequena e pouco feita a sorrisos... Ainda com esses predicados, tinha uma beleza de encanto pictórico, um estilo americano de filme slasher dos anos 80, para aqueles que tem uma queda pelo olhar de peixe morto, essa moça evoca esse encan...

CRITICA DE FILME 5

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  RODAN – (ISHIRO RONDA ,  1956)  Rodan é um pteranodonte e esse é um filme de kaiju, a partir disso, o filme todo já está resumido. E partindo desse sentido, o filme em si é bastante explicito em suas propostas temáticas, em um primeiro momento temos uma situação que afeta os trabalhadores de uma mineradora e a presença dos primeiros monstros, até há uma conversa sobre aquecimento global, e dentro dessa trama da mineradora temos a única trama humana, que seria de um personagem que é suspeito no ataque dos trabalhadores. Em seguida, um confronto direto contra esses insetos (ninfas), que no fim servem apenas de alimento para Rodan, uma ameaça muito maior, que traria efeitos para além do microcosmo da mineradora. A monstro, voa como um caça supersônico, até há uma explicação para isso, mas o motivo de isso estar acontecendo é bem explicitado pelos personagens, e é o uso de energia atômica, mais precisamente efeito das bombas pelos EUA, em Hiroshima e Nagasaki.   Eu f...

CRITICA DE FILME 4

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O rei de novo York  ( Abel Ferrara, 1990) - tenho saudade de escrever mas escrevo mal -"Eu não sou o problema, sou apenas um empresário"  Eu gostaria de me sentir à vontade ao escrever um texto, de saber exatamente o que eu quero fazer; manipular um objeto, dominar as regras e ter uma clarividência do contexto, é um patamar para poucos, poderia citar agora Lebron James, astro do basquete que nessa temporada bateu o recorde de pontos da história da liga. Eu que comecei a me interessar por basquete tardiamente, vindo do futebol, sempre tentei encontrar relações que pudessem me traduzir o que eu estava assistindo, mas a verdade, é que é impossível.  São jogos completamente diferentes, e um jogador para chegar a um patamar próximo do King James, precisa ter um domínio de vários fundamentos do jogo. No futebol, a defesa fica muito longe do ataque, de forma que um jogador como Messi, não necessariamente precisa ser um grande marcador. Aliás, é até uma anedota, que certos jo...

CRITICA DE FILME 3

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  Seis mulheres para o assassino, o protagonista somos nós Mario Bava é um diretor italiano que em comparação a seus pares, não recebeu tanta pompa e até o momento da realização desse filme, só havia trabalhado com filmes populares e de baixo orçamento, seja épicos (Peplum) ou filmes de horror gótico. O filme “Seis Mulheres para o Assassino” (1964), é considerado um dos pontapés iniciais para o Giallo no cinema, junto com o curta do telefone em “Black Sabbath” (1963) e a “Garota que Sabia Demais” (1963). Claro que toda essa definição é um olhar em retrospectiva, uma percepção de o quão influente foi uma obra, que não necessariamente pensava em ser influente, e até por isso talvez ressalte seu valor. Ainda mais se tratando de cinema popular. Mas o que “Seis Mulheres para o Assassino” têm de tão influente? A proposta do filme é clara, somos colocados dentro de um jogo de detetive e temos que descobrir quem é o assassino, o filme vai colocando pistas através de planos detalhes,...